quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Ponto Cego



“A pior cegueira é a mental, que faz que com que não reconheçamos o que temos a frente” (José Saramago)

 Uma das causas de acidente automobilístico é o efeito ponto cego do carro, onde olhamos e não vemos e quando se percebe já está em cima. O problema não está na falta de visão e sim quando deixamos de tê-la temporariamente.
Nos relacionamentos interpessoais também é assim, quando deixamos de enxergar pode acontecer grandes conflitos. O ponto cego pode ser uma grande dificuldade em nossos relacionamentos em duas vias: quando erramos em não conhecer bem a pessoa na qual estamos aderindo uma ideia, critica, fazendo negócios, entrando em relacionamento afetivo ou ouvindo críticas de outras pessoas, e quando estamos convivendo com pessoas que estão cegas ou querem continuar cegas e o pior, como dizia Clarisse Lispector: “A pior cegueira é a dos que não sabem que estão cegos.”
Na primeira questão em primeira pessoa, temos que seguir o conselho dos nossos avós que diziam: “para conhecer realmente uma pessoa coma um saco de sal com ela”, eu gosto de modernizar essa frase para, “quem quiser conhecer realmente uma pessoa viaje com ela por mais de 5 dias”. Os reality Shows que o diga, quantas vezes achamos que aquele é o mocinho(a) e ao passar dos dias se revela o vilão! Jesus conviveu com os seus discípulos e em um determinado momento disse: “um entre vós é o diabo”. Só saberemos quem é o diabo entre nós se conviermos, mas, espere um pouco você que acabou de ficar feliz em querer usar isto como argumento de defesa a seu favor. Jesus acolheu todos com amor e coração aberto, sem defesas, para amar até mesmo quem o iria trair, uma vez que já o sabia, conviveu mesmo assim por muito tempo até o dia da traição. Resumindo então, antes de ter uma opinião sobre alguém conviva com ela, sempre aberto para que o veredito seja contra você mesmo, onde a dificuldade seja a sua própria conduta.
Na segunda questão, quando estamos convivendo com alguém que está temporariamente cego ou querendo continuar cego, assim como diz o trecho da letra de “Staring At The Sun” (U2): “Não o único que está feliz por ficar cego”, é uma tarefa difícil também e requer muita paciência e sabedoria. Pessoas que querem continuar cegas se afastam de você quando sentem ameaçadas de ouvir ou ver a verdade. Dificilmente uma pessoa sincera sobrevive ao seu rol de amizades, apenas pessoas que sabem agradar mesmo que para isso use mentiras ou omissões. Então para não espantar de cara pessoas ou grupos assim, temos que conviver utilizando mais o silencio  e fortalecer o relacionamento ao ponto da pessoa querer e/ou confiar em você para confessar sua cegueira e o medo de não ser mais cega. Ai sim entra o tratamento a conta gotas com verdades e amor.
O que fazer então para para evitar o ponto cego? A cegueira mental como Saramago se refere tem como base a falta de conhecimento próprio, que ganha força quando se junta a nossa cultura do “fale apenas o que o outro quer ouvir” e goste apenas de quem “fala o que você quer ouvir”. Se conhecer é igual a você mesmo passar álcool em sua própria ferida, um trabalho doloroso que só você pode fazer. Estudamos sobre tudo menos sobre nós mesmo, menos sobre caráter, menos sobre o nosso problema. Gastamos com muitas coisas que poderiam esperar e não investimos em nosso próprio conhecimento. Quanto mais nos deixarmos de lado, mais dificuldade teremos pessoalmente mediante as oportunidades da vida e nos relacionamentos interpessoais. Finalizando vou recriar uma frase conhecida (gosto muito disso): “em terra de cego, quem tem autoconhecimento é rei!”

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