Os
“números” por trás dos atentados
“Este é o nosso mundo
O que é demais nunca é o bastante
E a primeira vez é sempre a última
chance
Ninguém vê onde chegamos
Os assassinos estão livres, nós não
estamos
Vamos sair mas não temos mais
dinheiro
Os meus amigos todos estão
procurando emprego
Voltamos a viver como há dez anos
atrás
E a cada hora que passa
envelhecemos dez semanas” (trecho da música Teatro dos Vampiros, Legião Urbana)
O pânico foi instalado após uma série de atentados nas
escolas, motivos para os pais perderem o sono e os alunos a travarem de vez a
vontade de ir para a escola. Nos EUA a situação sempre foi pior e os atentados
não tem lugar específico, mas as escolas são alvos de tempos em tempos. A
reflexão na pandemia foi: o que somos? Do que adianta muitas coisas diante
desta doença que nada se pode fazer? Passando alguns meses de tranquilidade estatística,
tais reflexões sumiram e o mundo volta a ser mundo, com direito a guerra na
Ucrânia mesmo na pandemia.
A indagação mediante as mortes do dia a dia sem motivos agora
é: o que está acontecendo com a população? Os ataques as escolas não são casos
isolados da violência, quem acompanha os meios de comunicação jornalística
sabem que o feminicídio virou uma pandemia do mal, o abuso de drogas está
transformando as pessoas em zumbis sociais, a violência doméstica estourou nos
tempos de pandemia e não regrediu mais. Sim, a sociedade está doente!
Minha opinião sobre esse assunto é um compilado do que já
ouvi de pessoas em atendimento nos meus 18 anos de formado em psicologia
clinica e hospitalar ininterruptos. Os números crescentes de mortes nos
atentados as escolas tem como peça chave, os números. O ser humano em grande
parte no mundo tem tratado as pessoas como meros números. Muitas empresas
exigem números para a entrada e permanência, mas há os que dizem que o mercado
de trabalho é uma selva, sim até pode ser, mas até na selva o animal expulso do
bando, com fome ou não aceito, desenvolve mais agressividade, tornando predador
até de espécies fora de sua cadeia alimentar. Empresas que capacitam para que
hajam eficácias na produção de forma humana correm por fora desta selva.
No sistema de ensino, muitas escolas correm atrás do
tempo com os seus professores para ficar com os conteúdos em dias e precisam
fazer com que a sala renda nas avaliações para que tenham bônus salariais e
outros benefícios. Fazendo com que os alunos que não acompanham ou tem um problema
de aprendizagem não diagnosticado devido a precariedade de profissionais
especializados nos assuntos (mais números), uma vez que trabalhos voluntários e
de ONGS na área tem suas dificuldades, porque não sobrevive sem recursos (mais
números). Augusto Cury a muito tempo atrás enfatizou que deveríamos estar mais
atentos a educar as emoções, o que resultou em um material didático nas escolas
particulares denominado “escola da inteligência” (menos números, ou seja, só
para um público que aderiram). Também é motivo de exclusão os depressivos, os
que possuem alguma doença mental, os que apresentam dificuldades comportamentais
no momento, tidos como pessoas que não somam, destinados então ao isolamento.
O seu poder de compra e o relacionamento com Bancos,
financeiras e até pessoas, tem como exigência máxima os seus números (mais
números), sejam patrimoniais, Score ou cifras salariais de maior evidência. Fazendo
com que famílias só autorizem casamento dos filhos se a parte escolhida tiver números
positivos. Isso é um grande passo ao fracasso pessoal de muitos e uma das
causas de tentativa de suicídio feminino e agressividade masculina (dificuldade
no relacionamento afetivo).
Usando o termo selva, muitas pessoas entre elas os adolescentes
e jovens vivem exclusão social devido a não preencherem os pré-requisitos de
uma sociedade perfeccionista, de uma religiosidade acusatória e moralista, de
uma política de embates teóricos que giram em torno de ataque e defesa com a
oposição. Enquanto o valor das pessoas estiver nos números, os números de
mortes só vão aumentar. E todos estão no mesmo barco, pois a pessoa que se
tornou violenta torna-se um risco para todo aquele que cruzar o seu caminho,
nele pode estar um adepto dos números como base de valores.
Sou um admirador de Jesus Cristo e daqueles que vivem uma
vida tentando repetir os seus passos como Madre Teresa de Calcutá. Ele nos
apresentou o número 3 que ressoa em sua trindade sobre a ótica do maior
mandamento que é “amar a Deus, o próximo como a ti mesmo”. Essa matemática coloca
todos na mesma chave de divisão, mostrando que a conta não vai bater se o
contrário acontecer. Ele também orientou que não devemos servir a dois senhores:
Deus e Mamon. Mamon é o dinheiro elevado ao patamar de divindade, ou seja, o
sistema de exclusão por números. Pois se você precisar de números para amar,
para confiar, para estender as mãos, você está servindo o sistema apenas. Por
isso muitas igrejas e templos não somam com as causas sociais, porque até
dentro delas o que vale são os números (quanto dizima, quanto ora, quanto
trabalha para a igreja).
Iris Vieira é psicólogo Clínico, Hospitalar , Palestrante,
coordenador dos comitês de prevenção do suicídio e de violências em Paraguaçu
Paulista-SP
Contato: @iris_palestrante /
irispsicologo@gmail.com